domingo, 29 de junho de 2008

Primeiro capítulo de um romance sem título



*


A Vera nunca gostou de cavalos. Sempre tentamos persuadi-la a acaricia-los, para que esta se convencesse de que eram animais dóceis. Mas Vera simplesmente não se aproximava. Nunca percebemos o porque deste medo, logo ela que parecia não ter medo de nada, enfrentando tudo e todos.
Ao contrário dos outros irmãos, Vera era livre e desimpedida. Quando tinha algo na cabeça, não havia ninguém que a pudesse contrariar. Apesar de ser constantemente criticada, Vera era a alma desta casa. A sua loucura juvenil era a felicidade de todos. Desde muito cedo que ela vinha chamando a atenção de todos, com todos os seus actos estranhos e espalhafatosos.
Numa manha de Outubro, esta saiu, enquanto todos dormiam. A tia Alice ficou apavorada quando já ao fim da noite esta ainda não tinha aparecido. Ao procura-la, encontramo-la junto ao rio completamente encharcada e sem sentidos. Vera era assim, fugia constantemente de casa, deixando-nos bastante preocupados. Sempre fora muito estranha. Por isso não foi de estranhar que esta, não aceitasse o pretendente que o pai arranjara.
- Eu pedi-lhe alguma coisa? Saiba que isso não vai acontecer! – disse, e de seguida trancou-se no quarto.
Se chorou ou não, não sei. Mas acredito que sim.
Tentei bater à porta, queria consola-la, dizer-lhe para não se preocupar, que tentaria falar com o papá. Mas não fui capaz. Vera era muito impulsiva e explosiva. Tive receio que esta descarregasse em mim toda a sua fúria. Quando furiosa, ninguém podia aproximar-se da sua pessoa. O melhor era mesmo não fazer nada.




**


- E que pensas tu, fazer na vida? – perguntou a tia Alice.
- Simplesmente vou pensar no assunto. – respondeu e sem mais nada a dizer, saiu de casa em direcção à floresta.
Segundo a tia Alice, o noivo de Vera era o filho do Senhor Sebastião, o dono da Casa do lago, que por sinal era muito amigo do papá. Essa amizade aconteceu quando ainda o Sr. Sebastião, na juventude, residia com seus pais na própria casa. Pouco se sabe, acerca deste homem, que após ter-se formado em Direito, formou família e nunca mais veio à terra, visitar seus pais. Agora que os país faleceram, veio morar de vez par cá.
O papá sempre fora muito reservado, e quem conta todas estas coisas é a tia Alice, que adora falar de tudo e de todos. O papa odeia esta faceta da tia, mas o que a tia não sabia, era que o senhor Sebastião tinha um filho em idade de casar. Aliás, não sabe mais nada desta família que, brevemente, será nossa vizinha.
- Então o papá vai casar a Vera com uma pessoa que nem conhece? – perguntei.
- Conhece o vosso pai, e já é o suficiente! – respondeu a tia.
- Não me admira que a Vera não queira casar, eu também não casaria, nestas condições!
- Vejam só, uma criança a falar em casamento! Estás a ficar parecida com a tua irmã…

sábado, 28 de junho de 2008

Ela libelinha, Ele rio


Ela tem lírios,
Ela tem sorrisos.
Ele quer os sorrisos,
E por isso lhe oferece lírios.

Ela deambula em vários sentidos,
Caíndo por vezes, em tenebrosos espinhos.
Ele porém procura um sentido,
Para com ela direccionar-se a um só caminho.


Podiam eles ser apenas uma libelinha e um rio?